terça-feira, 15 de maio de 2012

O farsante acha que o bandido vai prender o xerife, por Augusto Nunes Blog de Augusto Nunes


Vinte anos depois de escorraçado do cargo que desonrou, o primeiro presidente brasileiro que escapou do impeachment pelo porão da renúncia reafirmou, nesta segunda-feira, a disposição de engrossar o prontuário com outra façanha sem precedentes.
Primeiro chefe de governo a confiscar a poupança dos brasileiros, o agora senador Fernando Collor, destaque do PTB na bancada do cangaço, quer confiscar a lógica, expropriar os fatos, transformar a CPMI do Cachoeira em órgão de repressão à imprensa independente e, no fim do filme, tornar-se também o primeiro bandido a prender o xerife.
Forçado a abandonar a Casa Branca em 1974, tangido pelas patifarias reveladas pelo Caso Watergate, o presidente Richard Nixon passou os anos seguintes murmurando, em vão, que não era um escroque.
Perto do que faria a versão alagoana, o que fizera o original americano não garantiria a Nixon mais que a patente de trombadinha. Como isto é o Brasil, Collor não só se negou a pedir desculpas como deu de exigir que o país lhe peça perdão por ter expulso do Planalto um chefe de bando.
Foi o que fez no discurso de estreia que colocou de joelhos os demais pensionistas da Casa do Espanto.
Neste outono, excitado com a instauração da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito destinada a apurar bandalheiras praticadas por Carlos Cachoeira e seus asseclas, o farsante sem remédio decidiu enxergar na CPMI as iniciais de um Comitê de Pilantras Magoados com a Imprensa.
Caso aparecesse no Capitolio em busca de vingança contra o jornal The Washington Post ou a revista Time, Nixon seria prontamente transferido para uma clínica psiquiátrica. Nestes trêfegos trópicos, um serial killer da verdade articula manobras liberticidas com o apoio militante de inimigos do século passado.
José Dirceu, por exemplo, embarcou imediatamente no navio corsário condenado ao naufrágio ─ ansioso por incluir entre os alvos da ofensiva a Procuradoria Geral da República. E Lula, claro, estendeu a mão solidária para reiterar que os dois ex-presidentes nasceram um para o outro.
Em 1993, a metamorfose ambulante traduziu, sempre em português de botequim, a opinião nacional sobre a farsa desmontada meses antes: “Lamentavelmente a ganância, a vontade de roubar, a vontade de praticar corrupção, fez com que o Collor jogasse o sonho de milhões e milhões de brasileiros por terra”.
Trajando um jaleco imaginário, o doutor em ética caprichou no diagnóstico: “Deve haver qualquer sintoma de debilidade no funcionamento do cérebro do Collor”. O parecer foi revogado por Lula. Mas continua em vigor no Brasil que presta.

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