Nicholas Fearn
Mas como descobrimos qual a função do homem? Aristóteles
definiu-a como aquela parte da natureza dos seres humanos que é exclusiva
deles. Não podemos ser, portanto, a faculdade de crescer, pois a partilhamos
com as plantas. Nem pode ser a sensação, já que os animais . O também a possuem. Os que têm na vida o prazer por única meta comportam-se
como meros animais. O que de fato temos e que nenhuma outra criatura tem, no
entanto, é a faculdade da razão. Assim como não podemos compreender uma faca a
menos que saibamos que a sua função é cortar, ou uma bolota a menos que saibamos
que o seu fim é desenvolver-se em um carvalho, não nos compreendemos a nós
mesmos a menos que estejamos ciente da faculdade que nos é particular e da meta
que ela nos permite alcançar. Essa meta – o fim último para o qual todos os
nossos fins são meros meios – é a eudaimonia, ou, como podemos dizer, a
felicidade. Para Aristóteles, a eudaimonia consiste em agir em conformidade com
a razão. Uma forma de atividade racional é o raciocínio prático – o tipo
envolvido em virtudes morais como a coragem e a generosidade. O processo da
nossa vida é sermos bons – bons em sermos humanos. Contudo, mesmo que uma
pessoa exiba todas as virtudes morais no grau correto, o infortúnio ainda seria
capaz de lhe causar infelicidade., O indivíduo realmente feliz precisa ser
saudável, abastado e não escravo [nem mulher], acredita Aristóteles.
*Do livro “Iniciação à Filosofia”, de Marilena Chauí
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